Não é Não

Edição nº. 1 * Abril de 2020

Cheiene Damázio

Dia desses, enquanto preparava uma refeição, ouvi no noticiário, que as estatísticas de casos de violência contra a mulher aumentavam velozmente no Brasil. Entre um gráfico apontando para os números, vez ou outra apareciam fotos de mulheres que já não vivem; depoimentos de familiares trazendo o drama de suas perdas e uma ou outra conversa entre um jornalista e um delegado de polícia alertando sobre os direitos das mulheres, a importância da defesa pessoal e formas de denunciar uma agressão.
Neste instante recordei-me de vários fatos relacionados à minha vida familiar e profissional e a maneira como desenrolaram os fatos, mas o pensamento que prevaleceu na minha mente foi uma memória um pouco mais recente. Lembrei-me, que quando minha garota aprendeu a falar, costumávamos brincar no sofá. Eram brincadeiras de cócegas, brincadeira de bonecas ou de quebra-cabeças, não importa qual fosse, tratei de ensinar a ela que quando ela não quisesse mais brincar bastava dizer-me: — “mamãe, eu não quero mais brincar”, ou: — “não quero cócegas, mamãe”. E eu, imediatamente cessava a brincadeira.
Ensinei à minha filha naquele instante, num momento de brincadeira, a importância da palavra “não” e acima de tudo, a importância do “não” ser respeitado. Afinal, tão importante quanto pronunciar essa palavra é ouvir e respeitar a vontade alheia. 
Na verdade, eu ensinei a ela, precocemente, uma forma de escolher as companhias, começando a evitar aquelas pessoas que não respeitam a sua vontade. Da mesma forma, ela também teve a oportunidade aprender a ouvir e respeitar, quando alguém lhe disser a palavra “não”.
Isso precisa ser ensinado às crianças, ainda na infância, para que não sejam vítimas, abusadas, violentadas ou caladas por outras crianças em práticas ofensivas como bullying escolar e/ou em casos de violência doméstica e sexual. O “não”, enquanto substantivo e advérbio masculino, serve para negar e recusar algo. E isso precisa ser entendido do ponto de vista de quem fala, mas também de quem ouve e o interpreta. E por falar em interpretação, a palavra ‘não’, felizmente, só pode ser interpretada como NÃO. Não há sinônimos que a substituam e isso faz dessa, uma palavra simples e de fácil entendimento, definitivamente, Não é Não.


Cheiene Damázio Uggioni
Catarinense, professora (geógrafa) e autora do livro “Poetizando no ócio”. Membro da AJEBSC e da ALBSC-Criciúma. Participa dos projetos ComPar Poesias e Frutos da Poesia. Instagram @poetizando.no.ocio 

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