Os princípios da ciência aplicados à existência para uma vida consciente

Por Roberto Marchiori
Imagem: olivialanaeducacao.eadplataforma.com

Qual o significado e a importância dados hoje à palavra “consciência”? Ela dirige realmente a vida dos seres humanos? Mas afinal, tentar seguir a própria consciência é necessário, ou o sentido da vida é perseguir sucesso, dinheiro, poder? Quais as consequências de uma vida que não esteja em simbiose com a Natureza e com a sociedade? Essas perguntas simples são mesmo necessárias? 
Analisando esses dilemas, alguns de nós podem perceber, com certa perplexidade, que há uma grande probabilidade que essas perguntas tão essenciais não sejam tão “essenciais” para maioria das pessoas. As religiões indicam um caminho consciente baseado no respeito e no amor. Se baseando no comportamento humano na sociedade, a influência das religiões nas pessoas não parece ser suficiente. E a pergunta espontânea se torna a seguinte:
Porque a religião não parece ter influência suficiente?
A religião, qualquer que seja, tem um pressuposto: precisa de fé. Pessoalmente, em qualidade de cientista, não fico satisfeito quando necessito de “fé” para acreditar; isso, para mim, têm o significado de renúncia ao uso de uma análise consciente. Naturalmente a fé é um ótimo auxílio, mas é suficiente? Afinal, nós seres humanos temos um cérebro, órgão que define nossa existência como raça humana, supostamente únicos entre os animais do planeta a poder pensar de maneira “consciente”. Graças ao uso do nosso potencial intelectual somos seres questionadores e podemos escolher como viver, modificando as trajetórias que seriam pré-definidas se vivêssemos somente seguindo nosso instinto e nossas emoções. Inevitavelmente, o ato de questionar impulsiona o ser humano racional também na busca de algo mais objetivo para entender a vida e suas regras. A estrutura mais objetiva que temos a disposição para entender a realidade é construída a partir das leis da matemática e da física, que constituem a gramática da linguagem que descreve os fenômenos naturais.
Para mim o uso da ciência como guia de vida se tornou, então, o caminho principal na busca da verdade. A nova abordagem à ciência aqui proposta (MARCHIORI, R., 2020), além de oferecer analogias entre as leis da física e os vários aspectos do comportamento humano, traz também novas perspectivas para quem quer aprofundar o estudo da matemática, da física e das diferentes ciências básicas em geral, fundando uma nova metodologia de ensino da ciência. É importante salientar que a tecnologia está determinando nossas vidas e, no futuro, a ciência terá um papel cada vez mais central e fundamental para o desenvolvimento da sociedade. Contraditoriamente, o interesse dos jovens na ciência está diminuindo. As pessoas estão se afastando da compreensão das tecnologias, apesar de utilizar cotidianamente ciência e tecnologia.
Em outras palavras, poder usufruir da tecnologia está se tornando o principal interesse, sem se preocupar em entender a ciência geradora da tecnologia. Além disso, a tecnologia está afastando as pessoas da própria humanidade, das relações interpessoais, da percepção empática do próximo. Isso parece sugerir que a ciência seja desumana. Nada mais incorreto! O estudo e análise da ciência através da observação da Natureza indicam que todos os fenômenos naturais respeitam dinâmicas definidas por leis matemáticas. Mais além, existem muito exemplos de plantas e animais que evolvem respeitando leis de crescimento matemáticas, ou, mais em geral, baseadas em princípios físicos como, por exemplo, o “princípio de minimização da energia”. A ciência permite interpretar e expressar as leis de crescimento biológico como resultado de uma simbiose entre os seres biológicos e as condições específicas presentes no nosso planeta.
Eis um motivo muito interessante para se inteirar um pouco mais com o estudo da matemática e da física. Para terminar essa rápida introdução ao uso da ciência no percurso da evolução consciente do ser humano, o estudo da ciência com esse foco, mais filosófico e humanizado, incentiva fortemente o interesse na ciência, principalmente para quem sente a necessidade de fazer uma autoanálise mais objetiva possível. A busca dos verdadeiros objetivos da vida, o entendimento da conduta que esteja em simbiose com a Natureza e com a sociedade, além de muitos outros aspectos da vida, pode ser conduzida através dessa nova maneira de estudar e entender a ciência. Essa busca se torna necessária na medida que entendermos as consequências de nossa conduta. A ciência é bem clara quanto a isso!
Quem prejudica o próximo ou o ambiente, de forma geral, sofrerá as consequências segundo uma economia globalizada”, para usar um termo hoje muito na moda.
Um simples exemplo entre todos: uma das leis mais básicas da Natureza é o princípio de “ação-reação”, conhecido como “terceira lei da cinemática” ou “terceira lei de Newton”. Tudo, no universo, precisa respeitar essa lei, porque o ser humano não deveria, então?

Imagem: enviada pelo autor.
Exemplo de aplicação da lei de ação-reação: a energia gerada pelo impacto entre a primeira bolinha e a vizinha é transferida até a última bolinha, que se encontra na posição oposta, que subirá na mesma altura inicial da primeira bolinha. A ação da primeira bola gera uma reação igual e contrária na última bola.

Esse simples exemplo constitui um alerta para os seres humanos; nossas ações terão consequências, voltando para, ou contra, nós. Viver de maneira equilibrada, em simbiose com o próximo, com a sociedade e com a Natureza, é a melhor forma de ter uma vida feliz e construtiva, sem sofrer consequências negativas devido a uma conduta em desequilíbrio com o sistema. É muito positivo o fato de que cientistas da era moderna estão considerando novamente ciência e filosofia como duas faces integradas da realidade, voltando a ter a postura que os cientistas tinham antes da segunda grande guerra (1939-1945). Essa recuperada linha de pensamento permitirá entender melhor os universos que caracterizam nossa realidade, tanto o exterior quanto o infinito universo interior do ser humano. Chegou a hora do ser humano adquirir uma visão holística  da vida, já que ele está indissoluvelmente integrado com o Cosmos.

Referência
MARCHIORI, R., 2020: MARCHIORI, R.; Consciência com Ciência, 1a Ed., Biblio Editora, Dourados, 2020.


Roberto Marchiori
É Graduado em Física, mestre e doutor em Engenharia de Materiais, pós-doutor em ciência dos Materiais e em Nanotecnologia, desde 2009 professor titular da Universidade Federal de Rondônia (UNIR). O autor seguiu, em sua vida, um percurso de formação multidisciplinar, constantemente guiado pela vontade de aprofundar ao máximo o entendimento da ciência e da vida, profundamente interconectadas.

Livro: Consciência com Ciência
A obra será lançada em 2020 pela Biblio Editora.


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